27 de jul. de 2011

Um 7 no Caminho do Destino

Eu tinha apenas 15 anos e uma rebeldia que se dizia ateísta mas na verdade era antirreligiosa (o que eu só viria a entender muito tempo depois). Todo mistério me atraía e fascinava. Todo segredo me interessava. Explicações racionais sempre me pareceram parcas, insuficientes. Então quando começou aquela onda de esoterismo na mídia, a febre new age de meados dos anos 80, e a editora Nova Cultural lançou uma coleção de fascículos chamada A Sua Sorte, me interessei. Tratava de ciências ocultas, ou esotéricas: astrologia, cartomancia, tarô, i-ching... e numerologia, um sistema de autoconhecimento esotérico que viria a ser muito importante na vida deste escriba agnóstico. 

Eu estudava aquilo tudo com entusiasmo mesclado a desconfiança. Não aceitava de cara a ideia de um futuro pré-estabelecido que muitas vezes era apresentada, mas não podia deixar de admitir que havia sentido demais em certas técnicas para creditar tudo ao acaso. Mas me aborreceu particularmente o número sete (25/7) que a numerologia me ofereceu como Caminho do Destino. Ainda me lembro que o texto do fascículo de ensinamentos exotéricos dizia que eu teria uma vida pautada por certo isolamento, distanciamento da sociedade, atividades intelectuais e artísticas, forte exercício de crítica e autocrítica (e certa rabugice), estudo de línguas, mistérios e espiritualidade. Hoje em dia tudo isso me parece bastante interessante, mas eu tinha 15 anos, era sedento por sexo, drogas e rock’n’roll e queria festa, bagunça, zoação. Coisas que não se faz sozinho (há controvérsias). Fiquei bastante insatisfeito com a possibilidade de passar a vida isolado entre livros e no meio de um bando de gente velha. 

Hoje em dia, às vésperas de completar 43 anos, só posso comprovar que a numerologia estava certa e eu estava errado — eu tinha apenas 15 anos, o que se havia de esperar? Meu livre arbítrio me permitiu e continua permitindo que eu faça o que quiser. Particularmente a partir dos 22 anos (após me libertar definitivamente de um relacionamento doentio que me ensinou quase tudo sobre o lado feio do ser humano) eu me joguei de cabeça em festas, noitadas, sexo (muito), drogas (poucas) e rock’n’roll (mais para música eletrônica, na verdade). O período em que morei em Nova York, então, entre 1997 e 1999, foi uma fase de extravasar loucuras, de me aventurar e me arriscar. Mas ao longo do processo fui percebendo uma coisa: eu nunca me encaixava em grupo nenhum. Estava sempre à margem, sempre inserido mas deslocado, sempre dentro mas meio fora. Sempre tinha um olhar crítico e distanciado (por mais que próximo) de todos os grupos pelos quais transitei — grupos de esquerda, centro e direita; grupos de hetero e homossexuais; grupos conservadores e progressistas; grupos ateus, esotéricos, exotéricos e religiosos. Para os esquerdistas eu sempre estive à direita; já os direitistas sempre me acham de esquerda; progressista demais para os conservadores e conservador demais para os progressistas, e assim por diante com os diferentes grupos e extremidades. E esta é uma posição típica do número 7 — número primo que não se relaciona com os demais números dentre os primeiros 10 (que representam arquétipos essenciais). O número 7 está sempre à parte dos demais, sempre analisando a tudo e a todos (e a si mesmo), nunca se encaixando totalmente em nada e sempre percebendo um pouco de todos os lados. Tudo bem que também tenho em meu mapa um Dharma 11 que potencializa tudo isso, mas aí é assunto para outro post. 

Mas a numerologia também tinha razão em outro sentido, mais profundo: eu na verdade gosto muito desse jeito do 7. Uma das razões pelas quais eu preferi desenvolver uma carreira como músico solo e não como membro de uma banda é exatamente o meu individualismo que me torna desconfortável em grupos. Gosto mais de duplas. Em geral, desconfio de grupos. As pessoas se comportam de modo diferente, mais afetado e menos sincero, quando em grupo. Além do que, silêncio, introspecção e isolamento da sociedade me parecem coisas boas e agradáveis hoje em dia, vendo com clareza. Meu trabalho de tradutor reforça a lógica do número 7 de seguir um caminho de isolamento — o que aos 15 anos eu confundi com solidão. Não sou nada solitário — sou casado há mais de dez anos, tenho muitos amigos próximos e queridos com quem sempre mantenho contato virtual e real — mas não trabalho com ninguém por perto, seja como tradutor, escritor ou musico. Trabalho sempre sozinho ou com no máximo um(a) parceiro(a). O que está totalmente dentro do prognóstico do Caminho do Destino 7. Principalmente vindo de um 25, número de origem que empresta ao 7 nuances emocionais e sociais que nada têm de solitárias. 

E assim aprendi e venho aprendendo que a numerologia nos dá pistas certas, mas cabe a nosso livre arbítrio e nosso enfoque dos fatos extrair o melhor ou o pior da mensagem que os números nos sussurram... 

Texto de Johann Heyss. Não reproduza sem mencionar o autor e o blog.

4 comentários:

  1. Olá, Johann!

    Entendo bem esta percepção do 7... É minha personalidade (7 + 1 da alma = 8 destino). E fico pensando que às vezes nos vemos em uma sinuca de bico, verdadeiros desafios! Esses números, ah, esses números...rs

    Sou filha de numerólogo e os números me acompanham através de uma referência de saber. E me pergunto todo dia como uma criatura com personalidade 7 poderá manifestar e concretizar sua missão 8? Como cair neste mundão infinito do oito deitado, se o individualismo e a vontade de ficar quieta na caverna prevalecem?

    A beleza de um 7 bem equilibrado é a capacidade de ir e voltar (como o Carro?)permanentemente, trazendo ingredientes do mundo pra dentro de si e levando o que se produz a partir disso para o mundo.

    beijos estelares...

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  2. Oi, Cacau!

    O grande desafio é equilibrar as dicotomias e contradições dos números, que refletem as diferentes nuances de cada personalidade individual. É um desafio de todos nós, e o mapa numerológico ajuda a identificar mais rápido essas dicotomias (e as convergências também, naturalmente) para que se possa lidar com elas da melhor maneira possível.

    bjs!

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  3. Oi Johann,
    Adorei ter tido a oportunidade de ouvi-lo no Fórum...
    E agora ao ler o seu Post sobre o 7, literalmente me vi num espelho, com jornadas de vidas tão parecidas...
    Achava que era o único “maluco” ou como bom 7 incompreendido (para alguns)...
    Também sou um Destino 7 vindo de um 25, além do total do nome Tb dar 7 ou seja duplamente...
    O que me assegurou um estilo de vida bem incomum, que só pude compreender na maturidade...
    O caminho de vida do SETE é como empreender uma viagem com um determinado destino em mente, mas uma viagem cujo valor real só aparece no final transformado seu objetivo inicial em produto secundário. No fim, faz pouca diferença se o objetivo original da viagem foi realizado ou não. O que acaba tendo valor duradouro é algo que surge no meio do caminho, e que nunca apareceria se a viagem não tivesse sido feita.
    Identificação imediata com seu texto, sendo que a numerologia só passou fazer parte da minha vida na fase adulta e virou uma paixão, foi através dos números que pude compreender melhor as nuances da minha personalidade...
    Parabéns pelo Blog...

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  4. Olá, tenho o número 7 no destino, tenho 18 anos, nessa idade a gente fica meio perdido entre as próprias idéias, a gente acredita em tudo mas não crê em nada, poucos amigos, e os que tenho vivem a criticar meu pensamento sobre a vida e mundo, e já estou começando a passar a aceitar esta futura solidão como melhor companhia, pq vejo que não consigo me misturar muito bem com os outros, tem gente que acha que sou azeite até por que não chego em grupos de conversa nem puxo assunto com ninguém, na verdade minha desconfiança beira a paranóia, kkk

    mas isso aí valeu pelo post, gosto desse número, pois o que há de negativo é recompensado em dobro no positivo...

    abraços!

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